Há mais de 20 anos ouvi uma frase muito conhecida nos meios publicitários: “Se um produto passar no teste do gosto do povo curitibano, podem lançá-lo no país todo que dará certo.”
Assim, um bem ou serviço que fosse aceito pela população desta cidade teria enorme chance de ser bem aceito pelo consumidor brasileiro de forma geral. Essa crença gerou a noção de que Curitiba deveria ser escolhida como cidade-teste para qualquer lançamento. Embora se trate de afirmações ligadas ao mundo do marketing e da publicidade, o fato é que elas refletem características típicas do povo e do consumidor da capital do Paraná.
Assim, um bem ou serviço que fosse aceito pela população desta cidade teria enorme chance de ser bem aceito pelo consumidor brasileiro de forma geral. Essa crença gerou a noção de que Curitiba deveria ser escolhida como cidade-teste para qualquer lançamento. Embora se trate de afirmações ligadas ao mundo do marketing e da publicidade, o fato é que elas refletem características típicas do povo e do consumidor da capital do Paraná.
Curitiba são duas cidades, até bastante distintas. Uma, claramente influenciada pela colonização europeia, com seus usos e costumes rigorosos e conservadores, e outra mais parecida com o grande Brasil do interior, do Norte e do Nordeste, composta de pessoas mais soltas, mais carnavalescas, fruto da mistura português-africano-índio. A Curitiba mais europeia tem nível médio de renda maior do que a renda média do país, tem bons níveis de escolaridade e forma a "geração shopping center". Essa geração, que tem bons níveis de leitura, gosta de cinema, é um tanto caseira e tem na frequência a restaurantes um dos seus principais lazeres de fim de semana. Talvez induzida pelo clima e pelo conservadorismo da Europa anglo-saxã, essa parte da população curitibana é vista sim como um consumidor mais difícil de conquistar, além de ser diferente do estilo festivo e quase irresponsável do brasileiro simples das regiões de clima sempre quente.
Existe outra população dentro de Curitiba que vem do êxodo rural, pelo qual milhares de famílias deixaram o campo rumo às cidades, e do êxodo urbano, pelo qual grandes quantidades de população deixaram as pequenas cidades rumo à Região Metropolitana de Curitiba. Essa gente incorporou-se ao cenário urbano da grande cidade, mas manteve parte dos seus hábitos da gente simples do interior. O que ocorre é que a maioria da população do interior do Paraná, da qual saíram os emigrantes para a capital, é formada por brasileiros de São Paulo, de Minas Gerais, do Nordeste e do Norte do Brasil. É essa população vinda do interior do Estado que dá o tom da face curitibana composta pelo brasileiro típico conhecido da mistura da raça portuguesa com o africano e o índio.
Ouvi um palestrante fazer a seguinte pergunta à plateia: "Que diferenças e que convergências vocês acham que existem entre os consumidores de Santa Felicidade e os consumidores do Bairro Novo?" Seguiu-se um debate interessante que, ao final, levou todos a concluírem que a simples falta de concordância entre todos era a prova de que a população de Curitiba é mais complexa do que a possibilidade de defini-la com um rótulo só. Essa é, para mim, a grande questão: não existe uma Curitiba; existem várias Curitibas. A imensa diversidade de raça, origem, usos, costumes, estilos e expressão cultural é o que faz da capital do Paraná uma cidade admirável e forma, hoje, o palco para o orgulho dos seus habitantes.
*José Pio Martins é economista e reitor da Universidade Positivo
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