Foto: Divulgação/No Sofá/Especial 460 anos
João Nunes/São Paulo
Impaciente para dar início as comemorações do quarto centenário de São Paulo, o industrial Ciccillo Matarazzo antecipou a festa em 48 dias. Na noite de 8 de dezembro de 1953, abriu as portas da segunda edição de um evento que criara dois anos antes, a Bienal.
Ciccillo a incluiu no calendário de comemorações na condição de Presidente da Comissão do Quarto Centenário, instituída em junho de 1951 pelo governo estadual e pela prefeitura para orquestrar as celebrações previstas para todo o ano de 1954. A Bienal ocupou pela primeira vez dois dos edifícios do então inóspito Parque Ibirapuera, o maior legado dos festejos, que seria aberto ao público meses mais tarde. Tratavam-se do Palácio das Nações, hoje Museu Afro Brasil, e do Palácio dos Estados, atual Pavilhão das Culturas Brasileiras.
"O Parque do Ibirapuera, dentro da noite, era um eclipse com apenas duas faixas acesas: o Palácio das Nações e o Palácio dos Estados. O resto permanecia nas trevas, como blocos de folhinhas a serem desvendados em datas próprias". O relato, do romancista e crítico de artes plásticas- José Geraldo Vieira, foi publicado em 13 de dezembro na "Folha da Manhã".
Apesar do aspecto ainda vago e inacabado do conjunto, no meio do qual "a grande marquise dormia como um trabalhador na plataforma de uma estação antes do horário", o romancista registra que "para as duas estrias de luz no eclipse escuro do Parque do Ibirapuera rumavam carros e transeuntes, atraídos como besouros e mariposas para aqueles dois focos retangulares de luz".
Na ocasião, apenas os besouros e mariposas que fossem jornalistas, fotógrafos e críticos de arte ou artistas como Alfredo Volpi e Tarsila do Amaral, puderam conferir aquela que até hoje é tida por muitos a melhor edição da Bienal- uma cerimônia para as autoridades teria lugar no sábado seguinte, véspera da abertura para o público em geral.
Para os brasileiros , era a primeira oportunidade de contemplar num mesmo endereço obras de tantos representantes da arte moderna- 3374 nomes no total, contra 729 da Bienal de 1951. A lista incluía o americano Alexander Calder, o holandês Piet Mondrian, o suíço Paul Klee e o espanhol Pablo Picasso, que expôs sua monumental "Guernica".
Houve outros marcos culturais notáveis, no âmbito das comemorações. No concurso literário, a comissão julgadora - que contava com os escritores Carlos Drumond de Andrade e Paulo Mendes de Almeida e o crítico literário Antonio Candido- deu o Prêmio de poesia ao pernambucano João Cabral de Melo Neto, pelo seu poema " O Rio ou Relação da Viagem que Faz o Capibaribe de sua Nascente à cidade do Recife".
Na cerimônia de premiação, em 23 de Janeiro de 1954, presidida pela mulher de Ciccillo, Yolanda Penteado ( não ativa no cenário artístico quanto ele), foram contemplados ainda o também pernambucano Gastão de Holanda ( melhor romance, com "Os Escorpiões"), o paulistano Walter Geroge Durst (melhor roteiro cinematográfica, com "Quase um Guerra de Troia") e Edgar da Rocha Miranda (em teatro, com a peça "E o Noroeste Soprou").
Parecia não haver outro assunto. No Rio de Janeiro, promoveu-se na Academia Brasileira de Letras uma sessão em homenagem à efeméride paulistana. Terminou em debate. Os acadêmicos se perguntavam: Quem deveria ser considerado o fundador da cidade, o missionário português Manoel da Nóbrega, que tinha tido a ideia de criar um colégio naquelas lonjuras em 1554? Ou o jesuíta espanhol José de Anchieta, presente à missão de inauguração do colégio e que continuara a obra do português?
Convencida pelo poeta paulista Menotti del Picchia, a maioria saiu em defesa do catequista espanhol.. Entusiasmado, o ensaísta paraense Osvaldo Orico sugeriu que se comunicasse o placar ao governador de São Paulo, Lucas Nogueira Garcez.
Zero Hora: No dia 25 de janeiro de 1954, a festa do aniversário começou à zero hora. Quem não havia se posto em vigília para saudar a data foi acordado pelo badalar conjunto dos sinos da cidade, acompanhado pelo buzinaço dos motoristas e o espocar de rojões.
às 8h30, houve uma cerimônia no Pátio do Colégio. Diante do monumento da fundação de São Paulo, Getúlio Vargas depositou uma palma de louros. O presidente assistiu depois à missa inaugural da nova catedral da Sé, ainda com as torres inacabadas.
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